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Reportagem da revista Veja sobre Michael Jackson - 1984 (2/5)

Acontecimento histórico – Nada mais natural assim, que a turnê de Michael Jackson e seus irmãos aterrissassem em território americano com o alarde de um disco voador chegando à Terra. Em Kansas City, a primeira cidade escalada para receber a passagem de Victory, a população começou a viver o clima de jacksonmania um mês antes da estreia. Como os ingressos para os shows só podiam ser comprados por meio de cupons publicados nos jornais a partir do dia 19 de junho, multidões de jovens amanheceram diante das bancas naquele dia para garantir seus exemplares. Houve também um número recorde de jornais de assinantes roubados à porta das casas naquela madrugada. Hordas de adolescentes desfilavam pela cidade vestidos e penteados como Michael Jackson, ou ensaiavam passos de break, a dança negra que brotou nas ruas americanas e nas quais Michael se inspira para montar suas coreografias. “Foi o maior espetáculo que já vi na vida”, comentava entusiasmada Edith Marino, uma fã de 22 anos, à saída do show.
Em termos de mobilização popular, Victory pode ser comparado apenas a um show que não aconteceu: o que reuniria novamente os Beatles -sonho perseguido por vários empresários no final dos anos 70 e finalmente tomado impossível, na prática, com a morte de John Lennon em 1980. Desde que a turnê dos Jackson foi anunciada, criou-se nos Estados Unidos a expectativa por um acontecimento histórico. Um dos primeiros a reforçar essa expectativa foi o próprio presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. Em maio último, quando Michael Jackson foi convidado à Casa Branca para receber uma homenagem por sua participação numa campanha contra o uso de drogas, Reagan pediu-lhe pessoalmente que incluísse Washington no roteiro da turnê.
Ao fazer o pedido como um fã qualquer, Reagan juntou sua voz à de milhões de americanos que, se já viviam a jacksonmania com os discos e vídeos do cantor, esperam encontrar em Victory, efetivamente, um cavaleiro de outra galáxia. Por isso mesmo, mobilizam-se para que a turnê que ainda não tem fixadas todas as datas e locais por onde passará - inclua suas cidades. Em Boston, por exemplo, um jornal local publicou uma espécie de cupom-voto que os leitores deveriam devolver à redação com seu pedido para que os Jackson fossem à cidade. O jornal recebeu de volta 30 000 cupons. Enquanto isso, uma estação de rádio local organizava uma passeata reivindicando a inclusão de Boston no roteiro de Victory, e reunia 5 000 fãs com faixas e cartazes.
Já em Gary, a cinzenta cidade industrial do Estado de Indiana onde nasceram os Jackson, cerca de 30.000 pessoas participaram de um abaixo-assinado para que Michael fosse à cidade - se não para cantar, pelo menos para receber uma homenagem. O furacão detonado pelos Jackson acabou por atrair a atenção também de outros políticos, além de Ronald Reagan, envolvidos na presente corrida eleitoral americana. Na estreia da turnê, um dos mais entusiasmados espectadores das primeiras filas do estádio de Kansas City era Jesse Jackson (nenhum parentesco), o candidato negro à Presidência da República.
SEM GARANTIAS - Ao lado da excitação, Victory trouxe também uma maré montante de desapontamento, queixas e rancor, envolvendo a turnê, até sua véspera, na mais formidável controvérsia que jamais cercou um show deste tipo. A palavra-chave, nesse tumulto, era cobiça - e no centro de tudo estava o mirabolante processo engendrado pelos promotores de Victory para tirar o máximo de proveito financeiro da oportunidade. Segundo este esquema, os ingressos eram vendidos sempre em lotes de quatro, ao preço de 30 dólares (ou cerca de 55 000 cruzeiros) cada um. Ninguém poderia comprar mais ou menos do que quatro ingressos, e duas pessoas residentes no mesmo endereço não poderiam comprar mais que um lote de ingressos. Pior que tudo, o interessado, depois de adquirir seu lote e enviar à produção, por meio de vale postal, os 120 dólares correspondentes aos quatro ingressos, não recebia nenhuma garantia de que as entradas lhe seriam realmente entregues.
(Fim da parte 2)
Reportagem publicada pela revista Veja em 18 de julho de 1984
Reportagem da revista Veja sobre Michael Jackson - 1984 (2/5) Reviewed by MJFans BR on 5:30 PM Rating: 5

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