Reportagem da revista Veja sobre Michael Jackson - 1984 (1/5)
Michael, o magnético
Com o show Victory, Michael Jackson celebra seu triunfo
Cercado por descomunais monstros intergalácticos, o cavaleiro de roupas prateadas enfrenta uma batalha de vida ou morte. Subitamente ele cai ao chão, mas quando está prestes a ser devorado, reage com uma espada de raios laser. Em minutos os monstros dominados e o cavaleiro, do alto de uma montanha, ergue os braços e emite seu brado de vitória: "Bem-vindos à terra do império". Para as 45 000 pessoas que assistiram a essa cena no imenso palco de oito andares montado no estádio Arrowhead de Kansas City, um das principais cidades da região mais central dos Estados Unidos, no último dia 6, nem os monstros nem os efeitos de raios laser causaram tanta emoção quanto um pequeno detalhe da cena: a luva branca que o cavaleiro usava em uma das mãos. Pois quem estava ali, em carne e osso, era Michael Jackson – e, quando a pequena luva cintilou sob as centenas de refletores, a multidão, eletrizada, abandonou-se ao delírio.
Naquele instante, usando um dos acessórios indispensáveis de seu vestuário, ele iniciava de maneira triunfal a primeira apresentação de Victory, o show musical mais caro, espetacular e controvertido dos últimos anos, reunindo Michael e seus cinco irmãos do conjunto The Jacksons. A cena se repetiria nos dois dias seguintes no mesmo estádio Arrowhead, primeira escala de uma turnê que nas próximas semanas levará Victory a cerca de quinze outras cidades americanas e que desde já se desenha como um grande triunfo - de público, de cobertura da imprensa e possivelmente também de dinheiro, com uma receita bruta estimada em 50 milhões de dólares. Afinal, trata-se da primeira vez em que Michael Jackson sobe a um palco desde que, há dois anos, se tornou o maior fenômeno da música popular conheceu desde os Beatles. Com 45 milhões de dólares depositados em sua conta bancária somente em 1983, é o músico mais bem pago do mundo. E, com uma larga influência sobre toda uma nova geração musical americana, tornou-se um símbolo da cultura dos anos 80. Aos 25 anos de idade, ele poderia dar sua vida e obra por completas.
Victory é a grande oportunidade que 2,2 milhões de americanos – até o fim da turnê – terão para ver toda essa mágica ao vivo. “Este vai ser o acontecimento dos próximos dez anos”, diz o diretor de uma rádio de Seatle. “Você pode não ligar para quem está se apresentando. Mas quer ver”. De fato, não basta ouvir – o mais explosivo fenômeno musical dos nossos dias precisa ser visto. Em primeiro lugar porque, mais que um cantor ou compositor, Michael Jackson é um inigualável mestre de palco: nada se compara à furiosa precisão de sua dança, inovadora e empolgante, nem à sua estonteante capacidade de juntar som e movimento. “Quando entro em cena, é como um passe de mágica, perco o controle de mim mesmo”, ele diz. Em segundo lugar, porque este excepcional intérprete se tornou também, nos últimos anos, um mistério aos olhos do público – sua vida é secreta, envolta em mística e marcada por fantasias que às vezes o fazem parecer Peter Pan, o menino que queria crescer. Ou, então, um cruzamento de Howard Hughes, o célebre milionário americano que jamais era visto, com E.T.
(Fim da parte 1)
Reportagem publicada pela revista Veja em 18 de julho de 1984
Reportagem da revista Veja sobre Michael Jackson - 1984 (1/5)
Reviewed by MJFans BR
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9:30 AM
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