Reportagem da revista Veja sobre Michael Jackson - 1984 (4/5)
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IDENTIDADE SEXUAL - Vivendo em isolamento na espetacular mansão da família Jackson em Encino, nas vizinhanças de Los Angeles, Michael, além disso, construiu um espesso segredo sobre sua vida pessoal e sentimental. Há dois anos não recebe nenhum jornalista. Suas aparições em público são cercadas de um aparato que o mantém sempre isolado. Mesmo defendido das hordas de fãs, ele se fecha quando esteve na Casa Branca para ser homenageado pelo presidente Reagan, chegou a trancar-se por alguns momentos num banheiro, perturbado com a presença de estranhos à sua volta. Tudo isso, naturalmente, levou a um espectro infinito de especulações e fantasias sobre quem é Michael Jackson.
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Tais especulações, ao mesmo tempo, despertam desejos de proteção em relação ao ídolo misterioso que não tem namorada, não come carne e dorme num colchão estendido no chão. Some-se a isso sua terrível timidez e um certo ar de bicho de pelúcia desamparado, e tem-se um personagem que qualquer criança desejaria para sua prateleira de brinquedos. “O importante sobre Michael é que sua imagem foi construída com dedicação e disciplina”, diz o escritor negro Nelson George, um respeitado especialista em música popular americana. “Afinal, o que é o Super-homem, senão uma fantasia infantil de onipotência? As crianças sempre gostaram desse tipo de coisa.”
Sua capacidade para conquistar faixas de público além das crianças parece encontrar explicação numa outra esfera. Michael Jackson atinge ouvintes de todas as idades exatamente por não se dedicar a atingir nenhum. Tanto Elvis Presley quanto os Beatles exigiam de seus fãs algum tipo de identificação. Michael Jackson não prega coisa alguma e, para acompanhar suas canções ou piruetas, basta bater o pé ou tamborilar os dedos ao ritmo marcado. Por isso mesmo, em sua festa todos podem entrar.
SÓSIAS BRASILEIROS - Trata-se de uma festa que recebe a cada dia mais adesões. Nos Estados Unidos, a jacksonmania há pelo menos um ano deixou de ser um fenômeno apenas musical para invadir os hábitos e o comportamento dos jovens. Podem-se encontrar réplicas exatas de Michael Jackson nas ruas e não há adolescente que não tenha incorporado a seu guarda-roupa algum item do figurino do cantor: a luva solitária, o chapéu enfeitado, as calças pretas que deixam meias brancas à mostra, os óculos escuros, ou suas vistosas jaquetas bordadas. A jacksonmania cruzou continentes e, nos últimos meses, aportou também no Brasil. Para constatar o fenômeno basta, por exemplo, ligar a TV: nada menos de cinco programas de auditório, transmitidos pelas redes nacionais, mantêm concursos para escolher o mais perfeito sósia brasileiro de Michael Jackson, ou o grupo de dançarinos que melhor imita seus trejeitos.
A maioria dos concorrentes que se apresentam nesses concursos não são simples calouros, mas profissionais que vivem de sua suposta semelhança com o cantor. Como os integrantes do trio carioca Revelation, que ganharam 500.000 cruzeiros ao vencer o concurso do programa Cassino do Chacrinha, da TV Globo. Formado por Marcos, Oswaldo e Esio - este último filho do mestre-sala Delegado, da escola de samba Mangueira -, todos na faixa dos 18 anos, o Revelation apresenta-se regularmente em boates do Rio de Janeiro, atua como manequim de publicidade e, em caso de apresentações fora da cidade, cobra cachê fixo de 1,8 milhão de cruzeiros.
Também nas academias de dança a jacksonmania abriu seu espaço. Hoje há pelo menos vinte academias entre Rio e São Paulo que mantêm turmas regulares de break, tipo de dança popularizado a partir de Michael Jackson. Esse estilo de dança começa a influenciar também os sambistas. “Frequentemente flagro minhas passistas imitando os trejeitos de Michael Jackson", espanta-se o empresário Sargentelli, que há anos mantém shows de samba autêntico em suas boates mas que, nos últimos meses, aderiu à jacksonmania: contratou para encenar seus shows um “Andy Jackson", imitador de Michael e encarregado de um número humorístico.
CELEBRAÇÃO - Também o mundo da moda já incorporou o estilo Michael Jackson. O estilista carioca Luís de Freitas, por exemplo, dono das etiquetas Mr. Wonderful e Miss Divine, lançou há meses a coleção 3 x 8, em que reproduz os figurinos de Michael Jackson com um toque de humor. A gravata-borboleta preta que Michael usa no videoclipe de Beat It, na concepção de Freitas, transformou-se num pequeno morcego de borracha. Já a confecção Kaos Brasilis, de São Paulo, oferece um serviço inédito: por cerca de 500 000 cruzeiros, um cliente pode adquirir um traje completo de Michael Jackson, com personalizados que o tornam algo mais que uma fantasia.
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(Fim da Parte 4)
Reportagem publicada pela revista Veja em 18 de julho de 1984
Reportagem da revista Veja sobre Michael Jackson - 1984 (4/5)
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3:30 PM
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